Revolução Haitiana: Liberdade, Igualdade e Fraternidade para quem?
O Haiti é uma pequena ilha no Caribe, em tempos de outrora foi muito rica, um verdadeiro berço montanhoso de vastas riquezas minerais. Anterior à invasão europeia os indígenas do tronco aruaque ou arawak já estavam estabelecidos onde hoje temos as Bahamas e outras etnias aruaques iriam se estender pela América do Sul. Estes nativos já chamavam as terras de Haiti, que em aruaque significa " Terras Montanhosas ", e como tais, o Haiti faziam jus ao apelido.
Os contatos com os europeus foram de muito proveito e troca, afinal de contas, eram nativos amistosos com a presença dos visitantes espanhóis sob comando do italiano Cristóvão Colombo, o dito " descobridor " da América. Com o processo de colonização que se dá em 1492 com os espanhóis, a ilha passa a se chamar de " Ilha de São Domingos " e ainda, sob domínio espanhol por "Hispaniola", espanhóis passariam a realizar o já conhecido processo de colonização e escravização dos povos nativos, como eram um povo receptivo, o escambo foi bem vindo e muito usado, em seguida a escravidão e por consequência da resistência indígena, a aniquilação dos nativos e assim como no Brasil, a solução foi a mão-de-obra escrava africana.
Em meados século XVIII, a ilha de Pérolas das Antilhas ( apelido que foi designado para enfatizar a vasta riqueza natural do local ), passou a ser atacada por corsários franceses ( piratas pagos pela coroa francesa ) no período de conflitos entre as duas coroas, porém, ainda em meados do XVII, com o Tratado de Ryswick, a colônia já havia sido dividida entre Espanha e França, sendo então nomeada como São Domingos pelos franceses que vão dando a ocupação de maneira gradual com as invasões dos corsários.
Ao final do século XVIII, a ilha era ocupada por, em torno, de 450 a 500 mil africanos escravizados e mestiços libertos que eram subjugados, majoritariamente, por uma população de 40 mil franceses. Tal qual no Brasil, a escravidão haitiana se usou de inúmeros métodos de torturas e sadismos contra os africanos que lá trabalhavam nas plantations que garantiam boa parte do açúcar na Europa, além disso, não era permitido o nascimento de crianças entre os escravos, havendo descrições de torturas extremamente sádicas envolvendo mães pretas amarradas pelos braços e tendo o abdome cortado por senhores franceses, havendo um jogo valendo a vida do bebê ou da mulher que agonizava até a morte, entre tantos outros relatos, um sentimento de revolta, de dor, de ira e vingança surge nos haitianos, que inspirados pela Revolução Francesa de 1789, que pregava a igualdade entre todos, haitianos e haitianas pegaram em armas, montaram guerrilhas e questionaram o porquê de serem vistos como animais e não como seres humanos.
A partir de 1791, ataques aos senhores franceses passaram a ser comuns, destruição de plantações, assassinatos, envenenamentos, coletivização de quilombos ou maroons , e organizações em torno de rituais religiosos e movimentos de militares pretos que serviam à França e desertaram enfrentando os franceses até 1º de janeiro de 1804, quando enfim é declarada a Independência do Haiti. Os personagens? Conheceremos a partir daqui!
François Mackendal
Mackendal era um africano, possivelmente de origem senegalesa ou malinesa, que possuía um profundo conhecimento em relação às plantas. Muitas vezes visto como um sacerdote do culto aos Voduns, divindades africanas que em solo americano passariam a complementar o culto do Hoodoo no Haiti, e também cultura atrelada aos Jejes e aos Iorubás, se confundindo em alguns momentos em solo americano, teria sido um dos primeiros insurgentes mais radicais contra a submissão, segregação e racismo praticado pelos franceses. Mackendal também poderia carregar traços culturais islâmicos, o que confunde sua origem.
É um personagem que carrega muito misticismo em torno de sua imagem, e como um influente líder religioso, agregou seus conhecimentos medicinais aos movimentos de insurgência, orientou seus seguidores e apoiadores à se rebelarem contra seus senhores e os ensinou técnicas de envenenamento usando ervas e plantas. Mackendal sabia que não podia confiar em qualquer um, e astuto, pôs seu plano em prática contra os pretos que eram "assimilados", ou seja, serviam à Casa-Grande junto aos senhores e denunciavam os escravos rebelados ou fugidos, também haviam capatazes com a mesma função dos Capitães-do-Mato no Brasil. Seu plano deu certo e conseguiu eliminar possíveis informantes de seus planos, porém, algum desses escapou e foi denunciado, Mackendal foi capturado e espancado, condenado e queimado vivo em praça pública, e reza a lenda de que antes de sua morte, o sacerdote teria proferido palavras com tom de praga, afirmando que retornaria em forma de mosquito e veria os brancos morrerem um a um de sua terra que seria independente. É morto em 1758, deixando suas palavras na mente e no coração dos escravizados
Fatiman foi uma sacerdotisa responsável pela organização da Cerimônia de Bois Caiman, na qual teria viajada a ilha de São Domingos de ponta a ponta meses antes da data marcada, convocando sacerdotes e fiéis aos laos e ancestrais, além de lideranças insurgentes para o encontro que teria a presença de Boukman.
O lugar escolhido era estratégico, em meio a um pântano onde viviam muitos crocodilos, onde estariam seguros de possíveis ataques franceses.
Fatiman foi um elo importante para a propagação da revolução entre os escravizados, teria se casado com um líder revolucionário, general Jean Louis Michel Pierrot, que posteriormente viria a ser presidente do Haiti em 1845 a 1846. Cecile também possui muito mistério em seu nome, tendo vivido até os 112 anos.
Toussaint L´Overture ( 1743 - 1802 )
L´Overture foi um dos principais líderes da Revolução Haitiana, militar treinado, liderou tropas francesas haitianas contra invasões britânicas e espanholas na ilha, era filho de escravos, tinha uma educação vinda da França e era um reconhecido estrategista militar, sendo respeitado e convocado pelas forças militares francesas.
Atrelado à essa disputa entre Inglaterra e França, em 1793 é abolida, pela via jacobina, a escravidão em todas as colonias francesas. L´Overture se torna governador de São Domingos sob os interesses franceses, porém, em 1800, o líder organiza tropas e invade o lado espanhol da ilha, propagando o movimento abolicionista e as revoltas escravas em Hispaniola.
Tais atos iam contra os interesses dos grandes latifundiários da região, já que o açúcar era a grande base econômica da ilha, isso gerava uma série de conflitos sanguinários por parte de milícias pretas contra os latifundiários, que respondiam com mais atrocidades contra os africanos, aumentando mais ainda a ira do movimento. A partir de 1801, L´Overture deixa explícita sua intensão de tornar a ilha independente da França, incomodando Paris e consequentemente Napoleão Bonaparte, que cansado das insurreições em São Domingos, envia uma equipada expedição à ilha, comandada por Charles Leclerc, que iria impor condições à Toussaint e o obrigaria a entregar armas e a render o exército insurgente, as condições se baseavam na rendição dos escravos, mantendo a condição da ilha de colônia e numa série de acordos reconhecendo a liberdade e sua luta, porém, o líder preto é traído e levado prisioneiro à Paris, onde morre em 1802 decorrente de doenças adquiridas no cárcere.
Foto: Chandan Khanna/AFP
Por: Vítor Matheus Gonçalves
Referências e Indicações:
https://educador.brasilescola.uol.com.br/estrategias-ensino/os-reflexos-revolucao-haitiana-no-brasil.htm
https://mundoeducacao.uol.com.br/historia-america/revolucao-haitiana.htm
https://www.abracocultural.com.br/revolucao-haitiana/
https://www.infoescola.com/historia/independencia-do-haiti/
https://www.geledes.org.br/os-216-anos-da-revolucao-haitiana-a-maior-revolta-de-negros-em-um-pais-colonizado/
http://correionago.ning.com/profiles/blogs/os-libertadores-do-haiti-1
https://blogdaboitempo.com.br/2012/02/01/a-maravilhosa-revolucao-haitiana/
https://www.brasildefato.com.br/2019/06/20/ha-dez-dias-haiti-vive-novo-ciclo-de-protestos-pela-renuncia-do-presidente/
DOS SANTOS, Larissa, USP, 2018 - A Revolução Haitiana e os Ecos de uma Insurreição Negra.
Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/328716090_A_Revolucao_Haitiana_e_os_ecos_de_uma_insurreicao_negra
BRASIL: Uma Biografia, Lilia M. Schwarcz e Heloisa M. Starling, Editora Companhia das Letras, 2018
https://www.youtube.com/watch?v=6ouWgAcsUnk - História Geral #42 Revolução Haitiana
O Haiti é uma pequena ilha no Caribe, em tempos de outrora foi muito rica, um verdadeiro berço montanhoso de vastas riquezas minerais. Anterior à invasão europeia os indígenas do tronco aruaque ou arawak já estavam estabelecidos onde hoje temos as Bahamas e outras etnias aruaques iriam se estender pela América do Sul. Estes nativos já chamavam as terras de Haiti, que em aruaque significa " Terras Montanhosas ", e como tais, o Haiti faziam jus ao apelido.
Os contatos com os europeus foram de muito proveito e troca, afinal de contas, eram nativos amistosos com a presença dos visitantes espanhóis sob comando do italiano Cristóvão Colombo, o dito " descobridor " da América. Com o processo de colonização que se dá em 1492 com os espanhóis, a ilha passa a se chamar de " Ilha de São Domingos " e ainda, sob domínio espanhol por "Hispaniola", espanhóis passariam a realizar o já conhecido processo de colonização e escravização dos povos nativos, como eram um povo receptivo, o escambo foi bem vindo e muito usado, em seguida a escravidão e por consequência da resistência indígena, a aniquilação dos nativos e assim como no Brasil, a solução foi a mão-de-obra escrava africana.
Em meados século XVIII, a ilha de Pérolas das Antilhas ( apelido que foi designado para enfatizar a vasta riqueza natural do local ), passou a ser atacada por corsários franceses ( piratas pagos pela coroa francesa ) no período de conflitos entre as duas coroas, porém, ainda em meados do XVII, com o Tratado de Ryswick, a colônia já havia sido dividida entre Espanha e França, sendo então nomeada como São Domingos pelos franceses que vão dando a ocupação de maneira gradual com as invasões dos corsários.
Ao final do século XVIII, a ilha era ocupada por, em torno, de 450 a 500 mil africanos escravizados e mestiços libertos que eram subjugados, majoritariamente, por uma população de 40 mil franceses. Tal qual no Brasil, a escravidão haitiana se usou de inúmeros métodos de torturas e sadismos contra os africanos que lá trabalhavam nas plantations que garantiam boa parte do açúcar na Europa, além disso, não era permitido o nascimento de crianças entre os escravos, havendo descrições de torturas extremamente sádicas envolvendo mães pretas amarradas pelos braços e tendo o abdome cortado por senhores franceses, havendo um jogo valendo a vida do bebê ou da mulher que agonizava até a morte, entre tantos outros relatos, um sentimento de revolta, de dor, de ira e vingança surge nos haitianos, que inspirados pela Revolução Francesa de 1789, que pregava a igualdade entre todos, haitianos e haitianas pegaram em armas, montaram guerrilhas e questionaram o porquê de serem vistos como animais e não como seres humanos.
A partir de 1791, ataques aos senhores franceses passaram a ser comuns, destruição de plantações, assassinatos, envenenamentos, coletivização de quilombos ou maroons , e organizações em torno de rituais religiosos e movimentos de militares pretos que serviam à França e desertaram enfrentando os franceses até 1º de janeiro de 1804, quando enfim é declarada a Independência do Haiti. Os personagens? Conheceremos a partir daqui!
François Mackendal
Mackendal era um africano, possivelmente de origem senegalesa ou malinesa, que possuía um profundo conhecimento em relação às plantas. Muitas vezes visto como um sacerdote do culto aos Voduns, divindades africanas que em solo americano passariam a complementar o culto do Hoodoo no Haiti, e também cultura atrelada aos Jejes e aos Iorubás, se confundindo em alguns momentos em solo americano, teria sido um dos primeiros insurgentes mais radicais contra a submissão, segregação e racismo praticado pelos franceses. Mackendal também poderia carregar traços culturais islâmicos, o que confunde sua origem.
É um personagem que carrega muito misticismo em torno de sua imagem, e como um influente líder religioso, agregou seus conhecimentos medicinais aos movimentos de insurgência, orientou seus seguidores e apoiadores à se rebelarem contra seus senhores e os ensinou técnicas de envenenamento usando ervas e plantas. Mackendal sabia que não podia confiar em qualquer um, e astuto, pôs seu plano em prática contra os pretos que eram "assimilados", ou seja, serviam à Casa-Grande junto aos senhores e denunciavam os escravos rebelados ou fugidos, também haviam capatazes com a mesma função dos Capitães-do-Mato no Brasil. Seu plano deu certo e conseguiu eliminar possíveis informantes de seus planos, porém, algum desses escapou e foi denunciado, Mackendal foi capturado e espancado, condenado e queimado vivo em praça pública, e reza a lenda de que antes de sua morte, o sacerdote teria proferido palavras com tom de praga, afirmando que retornaria em forma de mosquito e veria os brancos morrerem um a um de sua terra que seria independente. É morto em 1758, deixando suas palavras na mente e no coração dos escravizados
Dutty Boukman
Boukman, segundo conta, é um nome rodeado de mistérios, um líder religioso, também praticante de religiões maternas africanas, cravaria seu nome na história do Haiti quando foi separado de sua mãe, na Jamaica, onde havia sido levado, ainda adolescente, à força ao Haiti pelos ingleses como punição à mãe, que promovia insurreições na Jamaica.
Conta-se que Boukman leva esse nome por conta da contração de " book man ", o homem do livro, por haver relatos de que carregava o Al-Corão islâmico, denotando que teria sido muçulmano, porém, com as raízes iorubás e jejes bem vivas. Boukman se tornaria famoso ao profetizar, numa cerimônia em agosto de 1791, que ficaria conhecida como a "Cerimônia de Bois Caiman" , que haveriam dois importantes nomes que liderariam tropas de africanos rumo à liberdade, além da profecia, havia sido feito uma série de rituais envolvendo animais afim de sacralizar a jornada e manter vivo o espírito de liberdade, além da difusão da filosofia e dogma das religiões que cultuavam os voduns ancestrais e as divindades, com uma atrelação ao Orixá Ogum, muito conhecido no Brasil.
Boukman usou o Orixá Ogum para encabeçar uma série de revoltas, que já agremiavam 100 mil escravos, envolvendo uma série de levantes violentos desde então. À sua imagem ficou atrelado o mito, já que Ogum é o Orixá da guerra e do metal, chegando a haver histórias e lendas de que Boukman realizava cultos a Ogum e o até incorporava para os levantes. O uso do mito em torno desse Orixá passou a inflar o ímpeto pela guerra e pelo combate rumo à liberdade do povo preto do Haiti.
O sacerdote seria capturado em novembro do mesmo ano e executado pelos franceses, tendo sua cabeça exposta. Os haitianos em honra ao seu nome, o admitem ao panteão dos ancestrais Laos, a cultura hoodoo assimilada em solo haitiano e seguem o levante.
Conta-se que Boukman leva esse nome por conta da contração de " book man ", o homem do livro, por haver relatos de que carregava o Al-Corão islâmico, denotando que teria sido muçulmano, porém, com as raízes iorubás e jejes bem vivas. Boukman se tornaria famoso ao profetizar, numa cerimônia em agosto de 1791, que ficaria conhecida como a "Cerimônia de Bois Caiman" , que haveriam dois importantes nomes que liderariam tropas de africanos rumo à liberdade, além da profecia, havia sido feito uma série de rituais envolvendo animais afim de sacralizar a jornada e manter vivo o espírito de liberdade, além da difusão da filosofia e dogma das religiões que cultuavam os voduns ancestrais e as divindades, com uma atrelação ao Orixá Ogum, muito conhecido no Brasil.
Boukman usou o Orixá Ogum para encabeçar uma série de revoltas, que já agremiavam 100 mil escravos, envolvendo uma série de levantes violentos desde então. À sua imagem ficou atrelado o mito, já que Ogum é o Orixá da guerra e do metal, chegando a haver histórias e lendas de que Boukman realizava cultos a Ogum e o até incorporava para os levantes. O uso do mito em torno desse Orixá passou a inflar o ímpeto pela guerra e pelo combate rumo à liberdade do povo preto do Haiti.
O sacerdote seria capturado em novembro do mesmo ano e executado pelos franceses, tendo sua cabeça exposta. Os haitianos em honra ao seu nome, o admitem ao panteão dos ancestrais Laos, a cultura hoodoo assimilada em solo haitiano e seguem o levante.
Fatiman foi uma sacerdotisa responsável pela organização da Cerimônia de Bois Caiman, na qual teria viajada a ilha de São Domingos de ponta a ponta meses antes da data marcada, convocando sacerdotes e fiéis aos laos e ancestrais, além de lideranças insurgentes para o encontro que teria a presença de Boukman.
O lugar escolhido era estratégico, em meio a um pântano onde viviam muitos crocodilos, onde estariam seguros de possíveis ataques franceses.
Fatiman foi um elo importante para a propagação da revolução entre os escravizados, teria se casado com um líder revolucionário, general Jean Louis Michel Pierrot, que posteriormente viria a ser presidente do Haiti em 1845 a 1846. Cecile também possui muito mistério em seu nome, tendo vivido até os 112 anos.
Toussaint L´Overture ( 1743 - 1802 )
L´Overture foi um dos principais líderes da Revolução Haitiana, militar treinado, liderou tropas francesas haitianas contra invasões britânicas e espanholas na ilha, era filho de escravos, tinha uma educação vinda da França e era um reconhecido estrategista militar, sendo respeitado e convocado pelas forças militares francesas.
Atrelado à essa disputa entre Inglaterra e França, em 1793 é abolida, pela via jacobina, a escravidão em todas as colonias francesas. L´Overture se torna governador de São Domingos sob os interesses franceses, porém, em 1800, o líder organiza tropas e invade o lado espanhol da ilha, propagando o movimento abolicionista e as revoltas escravas em Hispaniola.
Tais atos iam contra os interesses dos grandes latifundiários da região, já que o açúcar era a grande base econômica da ilha, isso gerava uma série de conflitos sanguinários por parte de milícias pretas contra os latifundiários, que respondiam com mais atrocidades contra os africanos, aumentando mais ainda a ira do movimento. A partir de 1801, L´Overture deixa explícita sua intensão de tornar a ilha independente da França, incomodando Paris e consequentemente Napoleão Bonaparte, que cansado das insurreições em São Domingos, envia uma equipada expedição à ilha, comandada por Charles Leclerc, que iria impor condições à Toussaint e o obrigaria a entregar armas e a render o exército insurgente, as condições se baseavam na rendição dos escravos, mantendo a condição da ilha de colônia e numa série de acordos reconhecendo a liberdade e sua luta, porém, o líder preto é traído e levado prisioneiro à Paris, onde morre em 1802 decorrente de doenças adquiridas no cárcere.
Jean-Jacques Dessalines ( 1758 - 1806 )
Dessalines foi um importante militar e companheiro de armas de L´Overture, que preso e tendo falecido na prisão, seu sucessor na busca pela independência foi Dessalines.
O militar, que vinha de origens humildes e era iletrado, foi ganhando notoriedade em sua aptidão para a guerra e estratégia, apoiando L´Overture em várias incursões e tomadas de cidades na colônia francesa e também no lado espanhol, sendo um importante motivador e até impiedoso contra seus inimigos, expondo sua gana pela independência da colônia.
Em 1803, Dessalines enfrenta as tropas de Leclerc, com desvantagem numérica, as tropas pretas defendem um forte por dias de cerco, causando espanto nos mais de 18.000 mil franceses contra , em torno de 1300 africanos e mestiços,na batalha de Creta-à-Pierrot, nesse episódio acontece um fato curioso, as tropas de Leclerc são assoladas por uma epidemia de febre amarela, contraída pelo mosquito, coincidência ou não, a atrelação à praga de Mackendal foi inevitável, o sacerdote teria voltado como um mosquito para ajudar os seus, e inclusive Leclerc morre por conta da doença.
Em 4 de dezembro de 1803, Dessalines rende o restante das tropas cansadas e enfraquecidas francesas, e em 1º de janeiro de 1804, declara a Independência do Haiti, nome que faz menção aos nativos da região e também se declara o imperador do Haiti.
Dessalines é morto por traição, e diz-se que foi morto em praça pública e barbarizado em seguida.
O militar, que vinha de origens humildes e era iletrado, foi ganhando notoriedade em sua aptidão para a guerra e estratégia, apoiando L´Overture em várias incursões e tomadas de cidades na colônia francesa e também no lado espanhol, sendo um importante motivador e até impiedoso contra seus inimigos, expondo sua gana pela independência da colônia.
Em 1803, Dessalines enfrenta as tropas de Leclerc, com desvantagem numérica, as tropas pretas defendem um forte por dias de cerco, causando espanto nos mais de 18.000 mil franceses contra , em torno de 1300 africanos e mestiços,na batalha de Creta-à-Pierrot, nesse episódio acontece um fato curioso, as tropas de Leclerc são assoladas por uma epidemia de febre amarela, contraída pelo mosquito, coincidência ou não, a atrelação à praga de Mackendal foi inevitável, o sacerdote teria voltado como um mosquito para ajudar os seus, e inclusive Leclerc morre por conta da doença.
Em 4 de dezembro de 1803, Dessalines rende o restante das tropas cansadas e enfraquecidas francesas, e em 1º de janeiro de 1804, declara a Independência do Haiti, nome que faz menção aos nativos da região e também se declara o imperador do Haiti.
Dessalines é morto por traição, e diz-se que foi morto em praça pública e barbarizado em seguida.
Revoltas Escravas no Brasil ( 1807 - 1835 )
A revolução haitiana, assim como a revolução estadunidense em 1776 geraram impactos nas elites das américas colonizadas, ainda teriam outros nomes haitianos como Vincent Ogé, Jean Papilou, Beassou Georges e outros que talvez nem seriam cogitados em outras terras insurgentes, e no Brasil não seria diferente. Em 1806 já começavam a surgir rumores de que haitianos estariam em solo brasileiro, na verdade, não se tem muitas documentações à não ser rumores relatados, porém, o medo era igualmente grande entre os latifundiários e as elites urbanas, já que a população africana no Brasil era muito superior à branca.
Mas, principalmente na Bahia, importante porto para escravos no Brasil, as revoltas ganharam força e proporções jamais esperadas. Em maio de 1807, os primeiros planos para uma revolta organizada preta no Brasil surgem, e eles vem do grupo étnico hauçá, que viviam sob domínios iorubás, na atual Nigéria, onde eram adeptos da cultura islâmica. Basicamente esse grupo étnico pretendia matar os brancos de Salvador, queimar igrejas e destruir imagens, e formar um país preto dentro do Brasil, além de mobilizar escravos de outras regiões como Pernambuco e libertá-los no grande motim. Acaba acontecendo uma delação e as lideranças são presas e castigadas, porém, não para por aí. Em 1814, os planos ressurgem, e dessa vez saques acontecem no recôncavo baiano e regiões mais afastadas provindos de quilombos e envolvendo as mais variadas etnias, porém, sob a idealização dos hauçás, que novamente são delatados e sufocados até que em 1835 eclode, de fato, a Revolta dos Malês, a grande revolta que entraria para a história pelo teor desordenado, violento e tumultuado. Na noite de 25 de janeiro, vários grupos saem às ruas armados com instrumentos de trabalho e armas brancas e lutam corporalmente contra civis e autoridades, dessa vez utilizando as indumentárias muçulmanas, como abadás, al-corão e túnicas.
Sem a adesão necessária por parte da população preta, mestiça e parda, os hauçás tiveram que enfrentar brancos ricos e pobres e também pretos libertos, além de terem sofrido, mais uma vez, delações, enfraquecendo o movimento que se deu de maneira desorganizada e antecipada por conta das denúncias. 70 hauçás foram mortos e 500 rebeldes presos e condenados à morte e ao açoite, se associa a questão de, como o islamismo não ser unânime, o movimento não teve a força de alcance necessária entre as etnias.
Outras capitanias teriam revoltas menores e de certo grau, mas a Bahia acaba sendo um sinônimo de luta já desde muito cedo, alimentando o medo de uma grande revolta armada escrava.
A revolução haitiana, assim como a revolução estadunidense em 1776 geraram impactos nas elites das américas colonizadas, ainda teriam outros nomes haitianos como Vincent Ogé, Jean Papilou, Beassou Georges e outros que talvez nem seriam cogitados em outras terras insurgentes, e no Brasil não seria diferente. Em 1806 já começavam a surgir rumores de que haitianos estariam em solo brasileiro, na verdade, não se tem muitas documentações à não ser rumores relatados, porém, o medo era igualmente grande entre os latifundiários e as elites urbanas, já que a população africana no Brasil era muito superior à branca.
Mas, principalmente na Bahia, importante porto para escravos no Brasil, as revoltas ganharam força e proporções jamais esperadas. Em maio de 1807, os primeiros planos para uma revolta organizada preta no Brasil surgem, e eles vem do grupo étnico hauçá, que viviam sob domínios iorubás, na atual Nigéria, onde eram adeptos da cultura islâmica. Basicamente esse grupo étnico pretendia matar os brancos de Salvador, queimar igrejas e destruir imagens, e formar um país preto dentro do Brasil, além de mobilizar escravos de outras regiões como Pernambuco e libertá-los no grande motim. Acaba acontecendo uma delação e as lideranças são presas e castigadas, porém, não para por aí. Em 1814, os planos ressurgem, e dessa vez saques acontecem no recôncavo baiano e regiões mais afastadas provindos de quilombos e envolvendo as mais variadas etnias, porém, sob a idealização dos hauçás, que novamente são delatados e sufocados até que em 1835 eclode, de fato, a Revolta dos Malês, a grande revolta que entraria para a história pelo teor desordenado, violento e tumultuado. Na noite de 25 de janeiro, vários grupos saem às ruas armados com instrumentos de trabalho e armas brancas e lutam corporalmente contra civis e autoridades, dessa vez utilizando as indumentárias muçulmanas, como abadás, al-corão e túnicas.
Sem a adesão necessária por parte da população preta, mestiça e parda, os hauçás tiveram que enfrentar brancos ricos e pobres e também pretos libertos, além de terem sofrido, mais uma vez, delações, enfraquecendo o movimento que se deu de maneira desorganizada e antecipada por conta das denúncias. 70 hauçás foram mortos e 500 rebeldes presos e condenados à morte e ao açoite, se associa a questão de, como o islamismo não ser unânime, o movimento não teve a força de alcance necessária entre as etnias.
Outras capitanias teriam revoltas menores e de certo grau, mas a Bahia acaba sendo um sinônimo de luta já desde muito cedo, alimentando o medo de uma grande revolta armada escrava.
A Pesada Cruz Haitiana
Após a independência, o Haiti passa por uma série de embargos, o medo de uma grande revolta de escravos nas colônias europeias fez com que, imediatamente, os países fechassem qualquer relação econômica com o mais novo país, além disso, a França cobra uma exorbitante taxa de compensação pela independência, o que joga o país numa situação econômica instável. Em 1820 o Haiti ganha o caráter republicano, mas a situação e instabilidade política se seguem, e desde então a maior parte dos presidentes não terminaram seu mandato, decorrentes de golpes atrás de golpes.
Em 1915 o Haiti é invadido por tropas estadunidenses, que alegavam ajuda contra a instabilidade haitiana, tendo permanecida a ocupação até 1934, agravando ainda mais as relações políticas do país. Em 1957 o médico e também curandeiro Françóis Duvalier ascende ao poder, com muito carisma popular, o presidente com patrocínio estadunidense acaba se mostrando um exímio ditador, matando sem distinção seus oponentes e perpetuando uma dinastia, conhecido como Papa Doc, acaba se tornando uma figura ambivalente, já que, ao mesmo tempo que oprimia, as vezes distribuía dinheiro pelas ruas, posteriormente assumiria seu filho, Jean Cloude Duvalier, o Baby Doc, terminando seu governo em 1986, após um levante popular. O país caído em instabilidade política e econômica, animosidade e caos social, em 1990 assume Bertrand Aristide, um padre e também liderança popular que é perseguido por uma milícia duvalierista, se exila nos EUA, quando retorna, assume a presidência em 1994, e 1996 outro nome assume a presidência. Em 2001 Aristides é reeleito e agora com caráter neoliberal, acaba cedendo à exigências estadunidenses, perdendo toda e qualquer autonomia, ainda sob influência francesa que enxerga na instabilidade uma oportunidade de exercer maior influência, no meio dessa situação a ONU resolve se impôr e envia as tropas pacificadoras, compostas por maioria latino-americana, com efetiva participação do Brasil, mesmo que sob possíveis denúncias de crimes no ano de 2019.
O Haiti ainda sofreria com desastres naturais em 2010, piorando a situação estrutural do país, e com isso, hoje, a população que tem um sangue guerreiro, luta diariamente por melhores condições de vida, autonomia, soberania e principalmente respeito. Um episódio que deve ser reconhecido por todos como um importante passo para a luta de libertação dos povos subjugados em solo americano, mas que, por uma série de fatores envolvendo interesses, culminou em grande instabilidade que perdura até hoje.
Após a independência, o Haiti passa por uma série de embargos, o medo de uma grande revolta de escravos nas colônias europeias fez com que, imediatamente, os países fechassem qualquer relação econômica com o mais novo país, além disso, a França cobra uma exorbitante taxa de compensação pela independência, o que joga o país numa situação econômica instável. Em 1820 o Haiti ganha o caráter republicano, mas a situação e instabilidade política se seguem, e desde então a maior parte dos presidentes não terminaram seu mandato, decorrentes de golpes atrás de golpes.
Em 1915 o Haiti é invadido por tropas estadunidenses, que alegavam ajuda contra a instabilidade haitiana, tendo permanecida a ocupação até 1934, agravando ainda mais as relações políticas do país. Em 1957 o médico e também curandeiro Françóis Duvalier ascende ao poder, com muito carisma popular, o presidente com patrocínio estadunidense acaba se mostrando um exímio ditador, matando sem distinção seus oponentes e perpetuando uma dinastia, conhecido como Papa Doc, acaba se tornando uma figura ambivalente, já que, ao mesmo tempo que oprimia, as vezes distribuía dinheiro pelas ruas, posteriormente assumiria seu filho, Jean Cloude Duvalier, o Baby Doc, terminando seu governo em 1986, após um levante popular. O país caído em instabilidade política e econômica, animosidade e caos social, em 1990 assume Bertrand Aristide, um padre e também liderança popular que é perseguido por uma milícia duvalierista, se exila nos EUA, quando retorna, assume a presidência em 1994, e 1996 outro nome assume a presidência. Em 2001 Aristides é reeleito e agora com caráter neoliberal, acaba cedendo à exigências estadunidenses, perdendo toda e qualquer autonomia, ainda sob influência francesa que enxerga na instabilidade uma oportunidade de exercer maior influência, no meio dessa situação a ONU resolve se impôr e envia as tropas pacificadoras, compostas por maioria latino-americana, com efetiva participação do Brasil, mesmo que sob possíveis denúncias de crimes no ano de 2019.
O Haiti ainda sofreria com desastres naturais em 2010, piorando a situação estrutural do país, e com isso, hoje, a população que tem um sangue guerreiro, luta diariamente por melhores condições de vida, autonomia, soberania e principalmente respeito. Um episódio que deve ser reconhecido por todos como um importante passo para a luta de libertação dos povos subjugados em solo americano, mas que, por uma série de fatores envolvendo interesses, culminou em grande instabilidade que perdura até hoje.
Foto: Chandan Khanna/AFP
Por: Vítor Matheus Gonçalves
Referências e Indicações:
https://educador.brasilescola.uol.com.br/estrategias-ensino/os-reflexos-revolucao-haitiana-no-brasil.htm
https://mundoeducacao.uol.com.br/historia-america/revolucao-haitiana.htm
https://www.abracocultural.com.br/revolucao-haitiana/
https://www.infoescola.com/historia/independencia-do-haiti/
https://www.geledes.org.br/os-216-anos-da-revolucao-haitiana-a-maior-revolta-de-negros-em-um-pais-colonizado/
http://correionago.ning.com/profiles/blogs/os-libertadores-do-haiti-1
https://blogdaboitempo.com.br/2012/02/01/a-maravilhosa-revolucao-haitiana/
https://www.brasildefato.com.br/2019/06/20/ha-dez-dias-haiti-vive-novo-ciclo-de-protestos-pela-renuncia-do-presidente/
DOS SANTOS, Larissa, USP, 2018 - A Revolução Haitiana e os Ecos de uma Insurreição Negra.
Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/328716090_A_Revolucao_Haitiana_e_os_ecos_de_uma_insurreicao_negra
BRASIL: Uma Biografia, Lilia M. Schwarcz e Heloisa M. Starling, Editora Companhia das Letras, 2018
https://www.youtube.com/watch?v=6ouWgAcsUnk - História Geral #42 Revolução Haitiana
https://www.youtube.com/watch?v=dLqfDkpchUc - 1804, Revolução Haitiana - Legendado
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