REINOS DE KONGO E NDONGO E OS PRIMEIROS CONTATOS COM OS LUSOS

 NGOLA KILUANJI KIA SAMBA E A CONFEDERAÇÃO DO KONGO 

O reino do Ndongo foi um influente reino Bantu de origem aproximada ao reino do Kongo, datando entre os séculos XIV e XV. Segundo se conta, com pouca exatidão, o primeiro Ngola teria sido Mussuri , que teria sido um exímio ferreiro, conhecedor de técnicas de caça e agricultura e por desenvolver uma espécie de Machado e machadinha para tais, acabou tendo o prestígio conquistado pelos líderes das províncias vizinhas que o proclamaram Ngola do Ndongo. Se desenvolvendo entre os dois rios Kwanza e  Bengo. Apesar do prestígio de Mussuri, o Ngola não expandiu seus territórios,  consolidando assim a fabricação de ferramentas e armas e o desenvolvimento de técnicas agrícolas. Um dos líderes mais célebres do Ndongo foi Kiluanji Kia Samba, conhecido como o Rei Guerreiro. A ele é atribuída a " independência do Estado do Ndongo " em relação ao Kongo. Muito se diz sobre uma possível vassalagem do Ndongo ao Kongo, outros negam, os dados que se tem disponíveis revelam que o Ndongo pagava em cabeças de gado uma quantia ao Kongo como tributo, Kiluanji Kia Samba teria sido o Ngola que desafiou o Manicongo envolvendo incursões militares afim de estabelecer uma maior autonomia. O Reino do Kongo a essa altura era um grande reino de caráter expansionista, tomando posses de províncias e fortalecendo suas fronteiras com influência bélica. Kia Samba teria sido corajoso em enfrentar esse poderio, mas tinha um trunfo consigo: a produção metalúrgica em larga escala. O Reino do Ngola a essa altura já era um grande produtor de machados e isso ajudou nos enfrentamentos aos vastos exércitos do Kongo. Sendo um detalhe mal contado a questão da vassalagem, os dois reinos se uniram mais adiante na história. Além disso, foi no governo de Kia Samba que o reino se expandiu tendo em si várias províncias extensas como Ilamba, Lumbo, Massangano, Umba, Are, Mosseque, Libolo e Quissamba. 


CHEGADA DOS PORTUGUESES 

Em 23 de julho de 1415 mais de 50 mil soldados e 30 mil marinheiros saem de Portugal em 200 embarcações sob o comando do infante D. Henrique rumando para o norte da África, mais precisamente mirando no entreposto comercial de Ceuta, a cidade que crescera aos cuidados dos povos árabes e mantinha uma rota de ligação comercial com o Oriente e Europa, trazendo riquezas e especiarias de um mundo desconhecido até então. Em 10 de agosto os portugueses teriam se aproximado da entrada da cidade, porém, por ventos fortes as embarcações tiveram um atraso e o senhor da cidade, o líder islâmico Sala-Bin-Sala acreditou que os ibéricos haviam desestido da investida e retirou seus exércitos da proteção da cidade. Porém, os portugueses não recuaram e com as condições propícias invadiram Ceuta, massacrando, sem dificuldades os muçulmanos que lá restaram, além de promoverem saques e a dominação final de Ceuta.

Consumada a expedição, Ceuta deixou de ser lucrativa, os comerciantes árabes passaram a levar suas cargas para Tânger e Túnis e em 1418 os mouros tentaram retomar a cidade, sem sucesso. A essa altura D. Henrique estava em Portugal, e acabou retornando para Ceuta após o ataque e assim, questionou escravos mouros de onde saia tantas riquezas, e então os mouros o explicaram que para além do deserto, haviam vastas riquezas e povos muito ricos. 

A verdade é que os árabes empregavam verdadeiras sagas em viagens pelo deserto até atingir a cidade de Tumbukto, no Império do Mali, um dos mais ricos da história, sendo Mansa Musa um dos seus maiores soberanos, que esbanjou riquezas ao viajar do Mali até a Meca em 1324. Essa história chegou aos ouvidos de D. Henrique, começou aí as intensas tentativas de derrubar o comércio árabe e a saga de viagens pelos mares desbravando a África. 


DIOGO CÃO, A CHEGADA AO CONGO E A CONSEQUENTE QUEDA DO KONGO

Em 1482 Cão havia atingido a embocadura do Congo no rio Zaire, cravando ali o marco da " descoberta ", seguiu mais adiante atingindo o Cabo Lobo ( Santa Maria em Angola ) e dali retornou, julgando que a África acabava ali. Em 1485 Cão teria visto o erro que cometeu, seguindo mais adiante , o que fez perder todo o prestígio com o rei português D. João II. 

À essa altura os europeus já haviam desbravado a Guiné, Senegal, Gana, Costa do Marfim e outros locais de onde retiravam riquezas e sobretudo o intenso comércio mercantil de escravos. 


O Kongo teria ali, seu início da derrocada. Em 1512 os soberanos manicongos adotaram os costumes portugueses assumindo o catolicismo, enfraquecendo as correntes populares culturais e dando margem para o intenso comércio de escravos ( um dos principais objetivos dos lusos ). Em 1665 ocorre a guerra de Mbwila, onde Mani Mulaza ou D. Antônio I acaba sendo derrotado pelos portugueses que haviam se aliado aos Jagás, perdendo o domínio de províncias importantes afetando a economia e a manipulação de seus metais. O Kongo, enfim, vai se tornando um poço de escravos para Portugal que se envolvia nas relações da realeza, provocava rupturas e influenciava pondo soberanos fantoches em governos sequentes. 


DE OLHO EM NDONGO 

As primeiras visitas e expedições dos portugueses ao Ndongo vão ocorrer em 1520, sob o comando de Baltazar de Castro e Manuel  Pacheco, que deveriam procurar regiões para se retirar mão de obra escrava. Além disso, se desconfiava de que havia uma mina de prata em Cambambe. Os nativos de Ndongo não iriam aceitar a visita e Manuel Pacheco foi morto e Baltazar de Castro foi capturado e mantido preso até 1526 quando Afonso I do Congo pede a soltura do português ao soberano do Ndongo, e assim foi feito. Retornando a Portugal, Baltazar revela sobre as minas e em 1560 Paulo Dias de Novais visita Ndongo e é capturado por Kiluanji Kia Samba, também mantido preso por mais ou menos cinco anos até que o Ndongo sofreu ataques dos Bayaka, Dias de Novais acabou sendo solto. 

Em janeiro de 1575, Paulo Dias de Novais funda a capitania de Luanda, onde teria levado militares, famílias e em seguida mandou erguer fortes, que serviriam de postos para a colonização do lugar. Seriam eles: Calumbo (1577), Muxima (1599), Massangano (1583), Cambambe (1583), Ambaca (1611), Pungo-a-Ndongo (1617).

Em meio a todos esses processos de expansão portuguesa no Ndongo, o Ngola Kiluanji Kia Samba organizou expedições militares repelindo os portugueses de seus territórios, bravamente lutou , organizou, formulou estratégias e formou alianças, concretizando a Confederação dos Estados do Kwanza, envolvendo os reinos do Kongo, Dembo e Matamba.  

Ngola Mdambi teria sido seu sucessor que também ofereceu resistência aos portugueses. Na linhagem real teríamos ainda Nzinga Mbandi , ou Ana de Sousa ( 1582 - 1663 ), a brilhante rainha e controversa figura que ofereceu resistências, acordos , diplomacia e guerra aos lusos. 

Fontes e indicações: 

https://www.radioangola.org/o-papel-de-njinga-mbandi-na-resistencia-do-povo-mbundu-contra-a-presenca-colonial-portuguesa/ 

https://flagelodahistoria.blogspot.com/2020/07/reinos-do-congo-sec-xiv-xv-bantus.html?m=1

https://youtu.be/Z765DHatPOA - Reino do Ndongo de Ngola Kiluanji Kia Samba

A Viagem do Descobrimento - Editora Brasil - Eduardo Bueno, 2019

A África equatorial e Angola: as migrações e o surgimento dos primeiros Estados - Jan Vansina, artigo compilado em História Geral da África - Séc. XII ao XVI - Djibril Tamsir Niane , 1964, edição de 2011 

O Reino do Congo e seus vizinhos - Jan Vansina, T. Obenga, artigo compilado em História Geral da África - Séc. XVI - XVIII - Bethwell Allan Ogot, 1964, edição de 2011

Obs: Muitas informações e inclusive contidas nos estudos, se basearam em fontes orais, de suma importância para se entender relações histórico-culturais da África em geral.

Ass. Vítor M. Gonçalves

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