REINOS DO KONGO ( Séc. XIV - XV ) - BANTUS DIRETO AO BRASIL

Os reinos do Kongo englobam onde hoje é Angola, República Democrática do Congo, Congo e parte do Gabão. Eram reinos centralizados na figura do Manicongo, o rei, e este cobrava tributos das províncias dominadas pelos reinos.
Os reinos do Kongo são muito importantes para entendermos a ligação da África com o Brasil, majoritariamente eram formados pelos povos bantus. O primeiro reino surgiu quando Nimi-a-Lukeni, o primeiro rei, centralizou várias tribos, com isso, essas tribos passaram a formar a cidade de Mbanza, e então, passou a dominar e a cobrar tributos das tribos dominadas e províncias anexadas ao governo do Manicongo.
O dialeto mais falado nas províncias era o Kikongo, e a religião politeísta, espiritualista e baseada nos Nkisses ( cultura trazida para o Brasil e incrementada nos ritos de matriz afro ).
A economia do Reino do Congo era baseada no comércio interno entre as províncias, e também no comércio externo com outras civilizações, as principais fontes eram o comércio de ferro, couro, sal e também a carne de animais. Outra curiosidade era que, para além desses produtos, vários tecidos oriundos do cultivo desses animais eram famosos pela África, alcançando regiões longínquas. 
A moeda utilizada entre os reinos era o nzimbu, feito de conchas de búzios, e muito valorizado entre os reinos. A origem dos reinos também envolve um pouco de mito em torno da oralidade, onde só o manicongo poderia dominar o metal, mantendo assim o cultivo do minério nas mãos das elites monárquicas, por assim dizer. Os impostos cobrados eram pagos também com vinho de palma, carne, metais, peles, marfim e outros produtos.
Os primeiros contatos com os portugueses datam de 1480, quando posteriormente às trocas de formalidades, os portugueses conseguem fazer converter o rei do Congo ao cristianismo.
                                     

GUERRAS PROVOCADAS - MANUTENÇÃO DA ESCRAVIDÃO:

Pois bem, os reinos do Kongo duraram, relativamente pouco, de um século a um século e meio. E por que os reinos do Kongo tem imensa ligação com o Brasil? É de lá que sai uma vasta quantia do contingente africano para servir nas plantations das Américas. Na transição do século XV ao XVI, os portugueses invadem a África e entram em contato, principalmente, com os congoleses. E se antes as províncias congolesas comercializavam bens e especiarias, a partir do contato com o Europeu, passaram a capturar humanos e a vendê-los aos ibéricos. Mas preste bem atenção, os africanos não faziam isso porque era prazeroso ou intrínseco à sua cultura, os bantus tinham sim guerras entre si, porém, sem essa relação arraigada, com o contato com o europeu, uma espécie de escambo passou a acontecer onde os portugueses ofereciam itens e ouro pelos africanos capturados pelos congoleses.
Um fator importante que ajudou demais na manutenção dessas guerras provocadas entre os congoleses e os de mais povos bantus, foi a extensão do rio Congo, o segundo maior da África, através dele os exércitos se locomoviam e se antes era hidrovia comercial, passou a ser caminho para as guerras.
Com o estreitamento das relações " cordiais " entre os portugueses e os manicongos, logo venho a conversão e dela surge o primeiro rei católico do Congo, Nzinga-a-Nkuvu, que converteria seu nome para João I do Congo, e tampouco a hierarquização da monarquia portuguesa entranha os povos bantus, gerando uma série de choques culturais entre as populações havendo também a adoção da indumentária européia no cotidiano da monarquia congolesa. Mesmo com a conversão, a cultura ao nkisse seguiu viva até ser difundida em solo brasileiro com a interação de bantus, iorubás e jejes, além dos contatos com fulanis e hauçás islamizados, dentre tantas outras etnias que faziam parte da composição desses grandes troncos. O cristianismo passaria a ser meta portuguesa em solo bantu, havendo conversões e batismos. 
Obviamente, com tantas mudanças, imposições, guerras provocadas e interesse de sobra por parte dos portugueses e das monarquias dos manicongos, os reinos caíram de pouco a pouco e se tornaram colônias portuguesas gradativamente.
     


Nzinga-a-Mbemba - Afonso I do Congo ( 1504 - 1540 )

Mbemba era filho de Nkuvu, e como tal, recebera o nome de Afonso pelo pai que havia se batizado de João, numa feliz coincidência ( proposital ) em alusão ao nome de D. João II e o príncipe D.Afonso de Portugal.
Mbemba entraria pra história dos bakongos por ser o primeiro a propôr um projeto de modernização do reino do Congo e cristianização ampla, solicitando em cartas, o envio de padres e estudiosos com o desejo de construir novas moradias, escolas, internatos e igrejas no reino, ainda haveriam pedidos para que fossem ensinados a técnica da confecção de naus. O projeto se consolida, e a partir de 1514 começam a surgir internatos em meio ao reino, com a finalidade de conversão em massa. Mbemba ainda teria um grande disparate e uma decepção sem proporções. 
Com a vinda dos religiosos portugueses, uma série de abusos começaram a surgir em território Congo, se antes o objetivo era um crescimento mútuo entre os povos, o reino do Congo seria visto como um mero reduto de mão-de-obra escrava, muito por conta da demanda para com as " índias ". Segundo a historiografia angolana, no período entre 1506 a 1575 foram exportados mais de 370 mil bantus para as novas dominações portuguesas, somado à isso, o sentimento de frustração era tamanho, os padres portugueses clamavam por conversão forçada em armas aos nativos, já que viam que seria difícil a conversão " por amor ". 
Afonso ainda faria um último clamor à coroa portuguesa, em carta, pediria para que a ocupação de traficantes de escravos no litoral congolês fosse cessada, o pedido foi negado.


BATALHA DE MBWILA - 1665 

Desde o reinado de Afonso I, os portugueses vinham se aproveitando de tamanha autonomia garantida em nome da igreja católica, ajudando na difusão e propagação do tráfico negreiro em solo congolês. 
Mbwila era uma importante região da província de Ndembo , sendo uma influente passagem para minas de ouro e prata, e despertando a cobiça européia, desencadeia uma sangrenta batalha entre congoleses e portugueses. Os portugueses saem vencedores dessa batalha, contando com a ajuda dos Jagás, uma etnia rival aos congos, tendo o rei Antônio I do Congo, morto em batalha, sua cabeça havia sido decapitada e enterrada em Luanda, e sua coroa e cetro real enviados à Portugal como troféu. Além do rei, seus sucessores também morrem em batalha, gerando um vácuo e uma intensa disputa pelo trono de Mbwila, afinal, era um influente reinado dentro os congos, complementando a capital Mbanza, que também cairia após a guerra com as linhagens batendo em retirada para outras províncias e a deixando sem resistência à ocupação. 
Essa batalha acaba deixando um profundo vácuo entre as linhagens reais congolesas, gerando uma série de conflitos internos entre os reinados e enfraquecendo de vez as defesas congolesas em meio ao tráfico cada vez mais entranhado de escravos. Motivados pelas rixas, os derrotados eram vendidos aos portugueses, uma relação parecida com a que aconteceu com a Guerra Iorubana entre Oyó e Dahomé. 



BANTUS:

Aqui, tenhamos um pouco de cuidado ao usar este termo em se tratando das mais variadas etnias africanas, lembremos que os europeus simplesmente simplificaram uma relação milenar de ene etnias africanas, os reduziram a sudaneses, mais ao norte, e aos bantus ao centro da África.
Para o Brasil, vieram kongos, benguelas, monjolos, cabindas, minas, rebolos, kilôas, bakongos e outros que configuravam essa etnia bantu.

RAINHA NZINGA ( 1582 - 1663 )



Nzinga Mbandi Ngola Kiluanji foi uma importante personagem da história bantu, foi responsável por uma resistência ao tráfico negreiro onde ela liderou grupos armados pela liberdade de seu povo.
Fazendo parte da realeza do reino de Ndongo, Nzinga se tornou uma embaixadora da coroa, era irmã de Ngola ( rei ) Mbandi, o rei Ambundo ( etnia ), este, por sua vez, não permitia que os portugueses adentrassem ao reino Ndongo, restringindo o comércio de escravos de guerra somente na costa, além de cobrar tributos dos portugueses. No período do Século XVI, os portugueses já estavam estabelecidos em Luanda, com isso, uma série de atritos com o ngola começaram a emergir decorrentes dos tributos e dos escravos capturados, quase sempre idosos ou com problemas físicos. Os portugueses, obviamente se revoltaram e passaram a atacar o rei, mas sei efetividade.
Nzinga já nos seus 39 anos, oferece um acordo, pedindo a retirada dos portugueses do reino Ndongo - Luanda, e a soltura de monarcas africanos, além da entrega de armas. O acordo não acontece e em 1623 Nzinga assume o trono Ndongo, se tornando Ngola, muito se diz que ela pode ter envenenado o irmão, ou o mesmo havia se matado, há muita lenda nesse ponto. A partir daí, começam uma série de imposições aos portugueses, conflitos armados, sabotagens, cobranças de tributos até a sua morte. Nzinga ainda se torna rainha do reino Matamba, e se une a um chefe Jagá, que era um povo de cultura militar forte, ajudando nos combates aos portugueses.
Nzinga é uma heroína, foi uma rainha guerreira que enfrentava em pé de igualdade os europeus. Seu nome católico era Ana de Sousa.

            


Por: Vítor Matheus Gonçalves



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