O Mítico Império Inca - Uma civilização Americana e o Caminho do Peaberu

O Império Inca ( 1200 - 1533 ) - Uma Civilização Andina Americana

A América do Sul tem uma rica e extensa história envolvendo as mais variadas nações indígenas dos mais variados costumes, culturas e filosofias, porém, algumas dessas nações resolveram constituir grandiosos impérios, estabelecendo relações de dominação, políticas, comerciais e religiosas, uma dessas nações é a Inca que se estende desde o Equador à Argentina.
O termo ‘ inca ’ basicamente refere-se a “ imperador ”, a liderança indígena que comandava essa civilização recebia o nome de Sapa Inca, ou apenas de Inca, e também respondia como um soberano religioso, descendente direto de Inti , o Sol. Os incas na verdade faziam parte do povo quíchua, que viviam onde hoje é Cuzco, no Peru, possivelmente desde o ano 1000, sendo posteriores à civilização Chavin, que ocupava a região desde, aproximadamente, 900 a.C a 200 a.C.
Os Incas passam por um processo expansionista a partir do Séc. XV, quando começam a invadir e a tomar terras de outras nações indígenas, demonstrando o poderio militar que havia fundamentado sob o comando do Sapa Inca Pachacutti, cravando seu nome na história por ter sido um influente líder, no qual, antes de propor uma investida militar, sempre mandava emissários com o fim de demonstrar as vantagens de as nações subjugadas se submeterem ao mando do Inca. Os incas sempre comemoravam uma aliança nova, era motivo de grande honra e a proteção à cultura local do subjugado era mantida, as lideranças locais tinham sua autonomia protegida e seriam vistos como nobres conselheiros do Inca e suas crianças seriam educadas conforme os quéchua e sistemas econômicos e políticos iriam ser incrementados ao povo subjugado, do contrário, a guerra era oferecida, sendo então as terras anexadas de forma violenta. A anexação iria envolver uma cobrança de tributos, quase sempre cobrados sob forma de trabalho, ou seja, pagavam exercendo algumas funções designadas pelo Inca.





Construções e estradas, vias de comunicação Inca

Os incas também tinham uma arquitetura incrível, e ergueram grandes construções como o templo do Sol, em Cuzco, onde ocorriam grandes celebrações e rituais em torno de Inti, o deus Sol, e também oferendas envolvendo alimentos das plantações, animais dos pastos e até humanos. Mas um fator que iria ajudar na propagação das notícias e mensagens do imperador, seriam as estradas construídas com a finalidade de aumentar a velocidade de transporte de cargas, bem como no abastecimento de campanhas militares.
Havia o serviço postal denominado de “ chasqui ” onde eram enviados emissários para levar as mensagens aos diversos povos incas. Para se ter uma noção, o Império chegou a abrigar 12 milhões de cidadãos, onde todos tinham suas funções bem delimitadas não havendo períodos de grande fome ou moléstia e uma organização invejável.
Os incas costumavam a denominar seu império como “ Tahuantinsuyu ” que significa o “ Império das 4 direções “, e todas tinham sua denominações: Chinchasuyu – norte, Antisuyu – leste, Contisuyu – oeste e
Collasuyu – sul.

  


Os Ayllu e a Mita, bases de trabalho Inca

Os ayllu eram terras que serviam de cultivo, ou seja, eram administradas por camponeses, a base da economia inca, e dessas terras saíam os produtos que iriam alimentar a população. Os kuraka eram os líderes dos ayllu e também tinham o dever de dividir igualmente as quantias adquiridas com as plantações e enviar os tributos ao Sapa Inca, além de ainda orientar e ajudar os camponeses de seu ayllu.
As de mais funções incas contavam com os militares, sacerdotes e lideranças locais intermediários e no topo o Inca, seus conselheiros e familiares. Apesar das regalias ao inca, nenhum residente do império tinha uma desigualdade extrema, já que a base do campesinato era baseada na troca, os incas tinham uma alimentação garantida, a moeda de troca eram sementes de cacau e também conchas coloridas, mais raras que ficavam sob domínio de uma “ elite “ inca, além disso, as lhamas eram amplamente usadas para transporte. As contas dos tributos eram feitas por um objeto chamado quipu, que era um emaranhado de nós coloridos em forma de franja.
Os incas também tinham a mita, que era uma espécie de trabalho prestado ao Estado, envolvendo as obras de cunho público e que ocorreria em determinadas épocas do ano ou quando houvesse a necessidade, os trabalhadores desse gênero eram recolhidos de todo o território inca e deslocados às regiões conforme finalidade.



Inti e Mama Quilla, pai e mãe dos Incas

Os deuses Inti e Quilla eram o Sol e a Lua, respectivamente, sendo o imperador o descendente de ambos. Quilla ainda era cultuada por sacerdotisas somente, enquanto Inti possuía sacerdotes que viviam em regimes monasteriais, por assim dizer, vivendo em isolamento e sendo uma espécie de curandeiro.
Acima de todos estava somente Viracocha , o Criador, segundo os incas. Ele quem ordenou todos os povos e os designou para diferentes funções no mundo, além de largar seus filhos os Huacas, para dominar os elementos naturais e viviam nas águas, nas florestas, nas montanhas, e satisfeito de sua criação, sumira caminhando pelas águas, logo a natureza era divinizada e em agradecimento, uma série de sacrifícios era designada aos huacas, inclusive humanos, nesse quesito, crianças também eram oferecidas ou jovens preferencialmente, pais e mães entregavam seus filhos em alguns momentos para serem sacralizados em nome dos deuses ou do Sapa Inca, e em outros momentos, os prisioneiros de guerras também eram ofertados, mas envolvendo um pouco de demonstração de sua força militar atrelada às deidades. Aqui é importante ressaltar que a sacralização humana entre as nações indígenas era muito comum e amplamente praticadas, alterando somente os rituais envolvendo essas práticas, vale lembrar da antropofagia que ficou famosa envolvendo os Tupinambás no Brasil, mas que era amplamente difundida entre os mais variados troncos.
Os incas praticavam a mumificação de pessoas importantes para o império, pois acreditavam que os espíritos dessas pessoas iriam acompanhar os huacas e ajudar nas comunicações para o mundo espiritual.





A queda de uma brilhante civilização

Os Incas começam a ter sua derrocada já no século XV, mesmo de seu ápice. O império passou a ser assolado por uma disputa para o trono Inca, onde Huayna Capac, o último imperador, havia morrido em torno de 1527 por varíola, deixando dois filhos: Huáscar e Atahualpa, e ambos passaram a disputar o império gerando uma divisão militar e uma série de conflitos internos e insurreições de outras nações indígenas, enfraquecendo, e muito, o exército inca.
Em 1527, o espanhol Fernando Pizarro realiza uma expedição para o encontro dos incas, mas sem sucesso, onde alcançam a região de Guayaquil, atual Equador, e também território Inca, mas retornam para onde hoje é o Panamá. Em 1531, Pizarro organiza nova expedição sob aval da coroa espanhola, e aí conta com, mais ou menos, 200 homens, mais cavalaria e intérpretes indígenas, quando se aproxima do território, os intérpretes o avisam que os incas estão passando por uma guerra civil.
O rompimento foi tão grande que Huáscar tinha apoio de militares de Cuzco, enquanto que Atahualpa tinha o apoio dos militares de Quito, chegando a haver um grande confronto, a Batalha de Quito, onde Atahualpa sagra vencedor, Huáscar é feito prisioneiro e então Atahualpa mobiliza os exércitos em direção a Cuzco, no caminho, para na cidade de Cajamarca, nesse ponto, Fernando Pizarro acaba sabendo de seu paradeiro e vai ao seu encontro, que, inicialmente assusta os espanhóis pela superioridade inca, além de suas armaduras e armas, mas termina violento num embate entre europeus e incas, e como apenas 200 homens vão subjugar um exército de quase 50.000?
Os espanhóis conseguem render Atahualpa em meio ao combate de Cajamarca e então cessam a batalha. O líder inca então se torna um fantoche na mão dos espanhóis que fazem um acordo para sua soltura, onde enche navios com ouro e prata, mas o acordo não é respeitado pelos espanhóis, com Atahualpa preso, o império passa pela desestabilização, Huáscar é assassinado à mando de Atahualpa, já que os espanhóis poderiam pretender usar o irmão como um líder, e Atahualpa é condenado à morte, quando chega a hora de sua execução, o Inca clama por sua vida e lhe é oferecida a conversão ao cristianismo para aliviar sua pena que era morrer queimado, e após sua conversão, ele é morto em 29 de agosto de 1533 por estrangulamento.
Pizarro ainda nomearia outro irmão para o trono: Toparca, que formaria um estado fantoche aos planos dos espanhóis, que também é assassinado estranhamente. Em paralelo à isso, as províncias incas passam a se rebelar, as nações começam a se aliar aos espanhóis ou guerrear por sua liberdade, as plantações foram arruinadas pela ocupação espanhola, todo o ouro e prata cobiçado e praticamente todos os incas possuíam o minério valioso  e portanto passaram eles próprios a pilhar e a ocultar essas riquezas, o Império Inca jamais se reconstituiria e seu fim foi trágico e tenebroso, somando todas as disputas e mortes deliberadas ao alastramento de doenças jamais vistas em solo americano, culminando em milhões de mortes num curto período de tempo.
Os incas resistentes aos espanhóis ainda se refugiam nas montanhas, nas cordilheiras, onde resistem até, mais ou menos, 1571, quando cai Tupac Amaru, liderança das resistências incas e símbolo de luta pela soberania e independência do povo inca. Ainda haveria uma segunda insurreição organizada por seu neto, Tupac Amaru II, também assassinado.

 
                                                                              

Caminhos do Peabiru – Ligação com os índios brasileiros 

As peabirus, que em tupi significa algo como  ”caminho de grama amassada” foi uma importante estrada em meio à mata que ligou todos os povos indígenas da América para muito antes do século XV, provavelmente já desde a ocupação americana no continente. Se estendia desde Cuzco até a Capitania de São Vicente, atual Estado de São Paulo no Brasil, se estendendo também ao Sul do Brasil, em Santa Catarina e Paraná, envolvendo contatos com indígenas que ocupavam o Rio Grande do Sul, Uruguai e Argentina.
Nestes caminhos, a troca entre os indígenas era forte, e o caminho era mantido pelos guaranis com a plantação de uma espécie de grama, onde delimitava o trajeto.
Com as ocupações europeias na América, rumores de uma terra do ouro e de riquezas crescia entre espanhóis e portugueses, e expedições foram organizadas para reconhecimento dessas trilhas e a busca pelo ouro.
Em 1514, com o conhecimento do Rio da Prata, os portugueses entram em contato com os charruas e os mesmos possuíam machados de prata, questionados, os índios charruas disseram que havia um povo que possuía muito mais da prata, despertando mais a cobiça e a corrida pelo ouro andino, aumentando as crenças de que havia, de fato, uma terra do ouro. Portugueses e espanhóis eram conquistadores rivais, e portanto as expedições contavam com ampla espionagem e informações eram disputadas. Com naufrágios envolvendo as regiões de Santa Catarina e os entornos do Rio da Prata, portugueses tinham as mesmas informações provindas dos índios carijós que ocupavam o Sul do Brasil, que também afirmavam que havia um povo com exuberância e muito ouro e prata.
Em 1524, o português naufragado, Aleixo Garcia, organizou uma expedição contando com o apoio de 2000 indígenas carijós, levando consigo alimentos e mantimentos, caminhando do Sul da ilha de Santa Catarina até o Peru. A expedição chega até Sucre, na atual Bolívia, a menos de 150 mil Km de Potosí, ainda estima-se terem levado 4 meses para chegarem em Assunção, no Paraguai. Confirmando as histórias que os charruas e os guaranis haviam contado aos portugueses da expedição perdida de 1514, ainda Aleixo ataca os postos guarnecendo as fronteiras incas, pilhando ouro e prata, e no retorno de sua expedição ao Brasil, ele é atacado por índios payaguá, ao atravessar o Rio Paraguai, tendo sido ele próprio morto e devorado.
Aleixo Garcia foi o primeiro homem branco a usar as trilhas, além de entrar em contato com o Império Inca. Seu caminho ainda seria utilizado por nomes como Martim Afonso de Sousa, e por jesuítas que usavam as trilhas para converter guaranis nas missões/reduções jesuíticas.
Com a queda do império Inca feita por Fernando Pizarro, as peaberus saíram do foco dos europeus ao Sul do Brasil.



Tupac Amaru eternizado

Tupac foi o último líder inca, sinônimo de resistência, luta e bravura perante a ocupação espanhola, e portanto foi reivindicado por diversos grupos sul-americanos como símbolo de reafirmação cultural, identitária e até nacionalista envolvendo movimentos como MRTA ( Movimento Revolucionário Tupac Amaru ) do Peru, os Tupamaros do Uruguai e do Sandero Luminoso, carregados de críticas ao capitalismo e as imposições imperialistas provindas desde o século XVI, e buscando a autonomia dos povos americanos.

 

Pachamama, essa terra é inca!

A deusa Inca que é a própria terra, a grande mãe que alimentou seus filhos durante séculos, ainda é símbolo de luta dos descendentes incas que vivem no Peru, e em outros países sendo cultuada, não só em prol da agricultura, como faziam os ancestrais do mítico império inca, mas como afirmação cultural e religiosa das práticas que os povos incas tinham como importantes para si e carregavam elementos da natureza em comunhão com sua existência, uma filosofia pertencente às nações indígenas quase que de maneira uma, mesmo que em diferentes lugares das Américas.
Símbolo de luta pela terra dos camponeses peruanos e bolivianos, sobrevivendo a cada dia numa terra usurpada. O condor que ao envelhecer sobe à montanha mais alta e recolhe suas asas e patas afim de cair feito uma rocha nos rios, para ressurgir num novo ciclo de vida, o mensageiro divino de Inti, o símbolo de astúcia, força e inteligência ainda surgirá nos picos andinos anunciando o retorno da união dos povos indígenas.
“ Sou América Latina, um povo sem pernas mas que caminha “ – Trecho da música “Latinoamérica” do grupo Calle13.


Guerreiro Cahuide expulsando um invasor espanhol enquanto protege a fortaleza de Saqsaiwaman, importante acesso à Cuzco, atual Maca, em Arequipa no Peru.

Por: Vítor Matheus Gonçalves

Referências e indicações:

BUNDE, Mateus. Caminhos de Peabiru. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/historia/caminhos-de-peabiru. Acesso em: 05 de July de 2020.

"Incas - A conquista espanhola" em Só História. Virtuous Tecnologia da Informação, 2009-2020. Consultado em 05/07/2020 às 22:33. Disponível na Internet em http://www.sohistoria.com.br/ef2/incas/p5.php

SILVA, Daniel Neves. "Incas"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/historia-da-america/incas.htm. Acesso em 05 de julho de 2020.

https://www.historiadomundo.com.br/inca

https://www.historiadomundo.com.br/inca/queda-imperio-inca.htm

https://www.infoescola.com/historia-do-brasil/caminho-do-peabiru-2/

https://super.abril.com.br/historia/o-primeiro-bandeirante/

https://anovademocracia.com.br/no-140/5632-nova-pesquisa-sobre-aleixo-garcia-e-caminho-de-peabiru-em-livro

https://www.oeco.org.br/blogs/fauna-e-flora/28091-o-imortal-condor-dos-andes/

“O Caminho do Peabiru – Eduardo Bueno” - https://www.youtube.com/watch?v=adQ4jgAh4nw

" O Império Inca " - Nerdologia - https://www.youtube.com/watch?v=m1o6DBRPq80

" História Geral #39 O Império Inca " - https://www.youtube.com/watch?v=jRdWFgnDS1s

" Grandes Civilizações - O Império Inca " - 
https://www.youtube.com/watch?v=LBzXDXEsf78

" Latinoamerica " - Calle13 - https://www.youtube.com/watch?v=DkFJE8ZdeG8

" El Condor Pasa " - Dante Ramon Ledesma - https://www.youtube.com/watch?v=mNuxWjSimdI


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